“Guaxenduba”, um poema de Pedro Lucas Rego
Nos pergaminhos nos palimpsestos
riscamos o equador e os trópicos
e o meridianos e as linhas imaginárias e as reais
riscamos paralelos colorimos iluminuras de rimas:
— e assim
desenhamos os mapas
(GERARDO MELO MOURÃO, canto IX, Invenção do Mar)
De uma luneta viam e eram os franceses
singravam franco-tupis franco-guajajaras mestiços
e Franciscos-em-pêndulo-na-proa traziam.
Albuquerque liderava as tropas de índios
e portugueses que avistando-se ao longe prisioneiros
já apontavam canhões e espingardas
pedras e flechas envenenadas
enquanto La Touche a espada despida
no alto estampava as velas
e regia o bom batuque dos índios
remo do esquifes franceses além
— Allons-y les abattre en quelques flots de flèches.
a seta varou peito o pé de um a mão de outro;
cessaram o canto
saltaram pra guerra
dez ou quinze a espuma envolveu (o mar enterrou)
caíram pelas balas dum lusitano
— sua luneta o próprio olho —
que fincavam o brilho sob a pele a carne
e espumas sobre estrelas oscilavam:
o clarão resistindo ainda
era o guerreiro caolho de cima do forte
feito de mira pela mão delicada
— a luneta o próprio olho —
pela mão que fazia dos seixos balas e prata
pela mão que amaciava a areia que empretecia então era pólvora
pela mão que arrasava a heresia
e era de Nossa Senhora da Vitória.
E os portugueses não mais de uma luneta
pois em horizonte próximo
festejavam os barcos de concreto
e o vento soprava as velas ao topo
— esses pingos de cera turvando o verde mar
festejavam: era a marca lusíada em todo o povo
(no lusoíndio luso-negro o luso-fusco)
a colorir o sangue a história e o couro
enquanto punham nas bocas de cachimbo
o azeite-mouro-babaçu
no café o açúcar
e nas saias o algodão de Itapecuru.