O poeta Ismail Kadaré cultura albanesa
Poemas

Quatro poemas de Ismail Kadaré

Ismail Kadaré é um poeta e romancista albanês, considerado por muitos um dos melhores escritores contemporâneos. Seus temas estão totalmente inseridos na cultura albanesa que, por meio da tradição oral, ainda preserva seus códigos sociais, seus mitos e seu idioma, sem sofrer tanta influência ocidental.

Ainda que desde os anos 1980, Kadaré tenha uma relação íntima com a França, com um grande número de leitores e estudiosos ao seu lado, o escritor não se rendeu à possibilidade da fama facilitada pela ocidentalização de sua obra. Seus escritos continuam sendo sobre a Albânia, firmando-se na besa (código moral do país), na história e no idioma, símbolos de unidade daquele povo.

Esta perenidade da cultura vai ser explorada pelo poeta Ismail Kadaré em diversos momentos de sua obra, além de ser tema de vários de seus romances, inclusive de Abril Despedaçado, seu texto mais famoso.

Esta tradução foi feita a partir do albanês, com apoio das edições francesas. Acredito que esta seja a primeira tradução brasileira dos poemas de Kadaré, ainda que seus romances já sejam bem conhecidos pelas traduções do jornalista Bernardo Joffily, principalmente, com a adaptação ao cinema de Abril Despedaçado, por Walter Salles.

Cataratas

As cataratas desciam aos saltos
qual fossem brancos cavalos raivosos,
suas crinas de espuma e arco-íris.

Mas de repente, na beira do abismo,
caíam com as patas dianteiras
fraturadas, oh, suas patas brancas.

E então morriam ao lado das pedras…
Pois agora em seus olhos amansados,
frígido, o céu está se refletindo.

Kataraktet

Kataraktet kërcenin teposhtë,
si kuaj të bardhë, të vrullshëm
plot jele shkumë e ylberësh.

Por befas te buzë e greminës
ranë me këmbët e para,
i thyen, oh, këmbët e bardha.

Dhe vdiqën në rrëzën e shkëmbit…
tani në sytë e tyre të shuar,
i akullt, pasqyrohet qielli.


Paisagem

Quem são essas velhas de preto que falam uma língua morta?
Elas vão pelo campo congelado
pisando em gelo por toda parte.
Acima de suas cabeças os corvos
vagam alarmantes.
Seus grasnos
indicam que há algo de errado
no antigo Código.

Quem são essas velhas de preto que falam uma língua morta?
Corvos sobre o campo congelado.
Os grasnos confusos e solitários.

Peisazh

Ç’janë ato plaka me të zeza që flasin një gjuhë të vdekur
Sillen në fushën e ngrirë
Shkelin mbi ngricë gjithkund.
Korbat mbi kokat e tyre
Enden kërcënueshëm.
Krokama
E tyre tregon se në kodin
E lashtë diçka nuk punon.

Ç’janë ato plaka me të zeza që flasin një gjuhë të vdekur:
Korba mbi fushën e ngrirë.
Krokama të shkreta plot hutim.

O voo em V dos gansos selvagens

Eles formaram a letra
a única que conhecem:
o magnífico V
e se partiram em voo.

Algo deixaram pra trás,
algo pegaram nas nuvens.
Obrigado, asas,
por tudo que fizeram.

Com essa única letra
no céu grandioso,
como uma estante de livros,
despertaram-nos saudade.

Fluturimi i patave të egra në forme V-je

E krijuan gërmën
e vetme që dinë:
V-në superbe,
dhe u nisën për fluturim.

Diçka lënë pas,
diçka marrin mbi re.
Faleminderit, pata,
për aq sa bëtë për ne.

Me një gërmë të vetme
në qiellin e madh
sa një raft librash,
na zgjuat mall.

A águia e a crescente

Cinco séculos lutaram em frentes
no céu da Albânia
junto das centelhas
Porém, derrotaria a lua crescente,
um dia,
uma águia com duas cabeças.

Shqiponja dhe Gjysmehena

Per pese shekuj luftuan ato rresht
Mbi qiell te Shqiperis,
ne rrebesh
Por gjithesesi, nje dite do te fitonte
Kunder nje hene gjysmake,
nje shqipe me dy koke.

Traduções de Pedro Lucas Rego.

Um comentário

  • Fernando Marques

    Interessante sobretudo pela força das imagens (talvez algo do ritmo se perca em tradução). Um bom aperitivo para despertar a curiosidade. Por favor, continue. Traduzir é criar pontes, dizia Millôr Fernandes.

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