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Verso na poesia: o que é, características e exemplos

Já se perguntou como a poesia ganha vida e a transmite aos seus leitores? O segredo está em uma pequena unidade poética chamada “verso”. O verso é o coração pulsante da poesia, dando ritmo, musicalidade e estrutura a cada linha — vai muito além de apertar enter e quebrar linhas.

Neste artigo, exploraremos o significado e as características do verso na poesia, além de compartilhar importantes exemplos da literatura nacional e mundial. 

O que é o verso?

Verso é uma unidade básica da poesia composta por uma sequência de palavras organizadas em uma linha. É através do verso que o ritmo, a sonoridade e a estrutura smartgrid today poética são estabelecidos.

Cada verso é composto por uma ou mais sílabas poéticas, que podem ser fortes ou fracas. O tamanho do verso varia de acordo com as tradições literárias e estilos poéticos. Por exemplo, o verso decassílabo é composto por dez sílabas, enquanto o verso alexandrino possui doze sílabas. A contagem das sílabas ajuda a determinar o ritmo e a cadência do verso, contribuindo para a sua musicalidade.

Além do número de sílabas, a organização rítmica também desempenha um papel crucial. O ritmo é criado através da alternância de sílabas fortes e fracas, tônicas e átonas. Essa combinação de sílabas, juntamente com as pausas estratégicas, dá ao verso a sua musicalidade e impacto emocional.

Como o verso pode moldar nossa percepção do poema?

O verso vai muito além de simplesmente quebrar linhas, como destacou Aristóteles em sua Poética. Ele desempenha um papel fundamental na criação de musicalidade, ênfase e emoção na poesia. 

Através do ritmo e da sonoridade dos versos, a poesia adquire uma qualidade musical que cativa os leitores. O uso cuidadoso de padrões rítmicos e pausas estratégicas dentro de um verso cria uma cadência única, estabelecendo um fluxo harmonioso que envolve os sentidos e atrai a atenção.

Por exemplo, um verso pode ser estruturado de forma a enfatizar palavras-chave, destacando-as e amplificando seu impacto. A disposição das sílabas tônicas e átonas, juntamente com a entonação adequada na leitura, permite que certas palavras ou ideias se destaquem, transmitindo emoção de forma mais intensa.

A seleção do verso também influencia a experiência do leitor ao interagir com o poema. Cada tipo de verso possui uma atmosfera única e uma sensação particular. Versos curtos e rápidos podem criar um ritmo acelerado e enérgico, transmitindo urgência e emoção intensa. Por outro lado, versos mais longos e pausados podem criar um ritmo mais contemplativo e sereno, permitindo que as palavras se desdobrem lentamente.

Em resumo, a escolha consciente do verso na poesia tem um impacto significativo na criação de musicalidade, ênfase e emoção. Através de uma combinação habilidosa de ritmo, entonação e estrutura, o verso molda a experiência poética e intensifica a mensagem transmitida, convidando os leitores a se envolverem emocionalmente com o texto e a explorarem as camadas de significado contidas na poesia.

O poema que te ajuda a entender os tipos de verso

Quero que leia este poema sem tentar entendê-lo. Preciso que você preste atenção em apenas uma coisa: o tamanho dos versos. Você verá que, em cada estrofe, Gonçalves Dias usou um tipo específico de verso; esse seu uso não foi simplesmente para fins didáticos, como o utilizamos aqui, mas sim para mostrar uma tempestade que chega, se intensifica e vai embora.

No tópico seguinte, veremos quais são os tipos de versos, com outros exemplos que te ajudarão a entendê-los.

A tempestade, um poema de Gonçalves Dias 

Um raio
Fulgura
No espaço
Esparso,
De luz;
E trêmulo
E puro
Se aviva,
S’esquiva
Rutila,
Seduz!

Vem a aurora
Pressurosa,
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Tem desmaios,
Já por fim.

O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
De vivas cores
Adorna as flores,
Que entre verdores
Se vê brilhar.

Um ponto aparece,
Que o dia entristece,
O céu, onde cresce,
De negro a tingir;
Oh! vede a procela
Infrene, mas bela,
No ar s’encapela
Já pronta a rugir!

Não solta a voz canora
No bosque o vate alado,
Que um canto d’inspirado
Tem sempre a cada aurora;
É mudo quanto habita
Da terra n’amplidão.
A coma então luzente
Se agita do arvoredo,
E o vate um canto a medo
Desfere lentamente,
Sentindo opresso o peito
De tanta inspiração.

Fogem do vento que ruge
As nuvens aurinevadas,
Como ovelhas assustadas
Dum fero lobo cerval;
Estilham-se como as velas
Que no alto mar apanha,
Ardendo na usada sanha,
Subitâneo vendaval.

Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha, — salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.
Disseras que viras vagando
Nas furnas do céu entreabertas
Que mudas fuzilam, — incertas
Fantasmas do gênio do mal!

E no túrgido ocaso se avista
Entre a cinza que o céu apolvilha,
Um clarão momentâneo que brilha,
Sem das nuvens o seio rasgar;
Logo um raio cintila e mais outro,
Ainda outro veloz, fascinante,
Qual centelha que em rápido instante
Se converte d’incêndios em mar.

Um som longínquo cavernoso e ouco
Rouqueja, e n’amplidão do espaço morre;
Eis outro inda mais perto, inda mais rouco,
Que alpestres cimos mais veloz percorre,
Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco
Do Norte ao Sul, — dum ponto a outro corre:
Devorador incêndio alastra os ares,
Enquanto a noite pesa sobre os mares.

Nos últimos cimos dos montes erguidos
Já silva, já ruge do vento o pegão;
Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
Até que lascados baqueiam no chão.
Remexe-se a copa dos troncos altivos,
Transtorna-se, tolda, baqueia também;
E o vento, que as rochas abala no cerro,
Os troncos enlaça nas asas de ferro,
E atira-os raivoso dos montes além.

Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruínas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.

Inda ronca o trovão retumbante,
Inda o raio fuzila no espaço,
E o corisco num rápido instante
Brilha, fulge, rutila, e fugiu.
Mas se à terra desceu, mirra o tronco,
Cega o triste que iroso ameaça,
E o penedo, que as nuvens devassa,
Como tronco sem viço partiu.

Deixando a palhoça singela,
Humilde labor da pobreza,
Da nossa vaidosa grandeza,
Nivela os fastígios sem dó;
E os templos e as grimpas soberbas,
Palácio ou mesquita preclara,
Que a foice do tempo poupara,
Em breves momentos é pó.

Cresce a chuva, os rios crescem,
Pobres regatos s’empolam,
E nas turvam ondas rolam
Grossos troncos a boiar!
O córrego, qu’inda há pouco
No torrado leito ardia,
É já torrente bravia,
Que da praia arreda o mar.

Mas ai do desditoso,
Que viu crescer a enchente
E desce descuidoso
Ao vale, quando sente
Crescer dum lado e d’outro
O mar da aluvião!
Os troncos arrancados
Sem rumo vão boiantes;
E os tetos arrasados,
Inteiros, flutuantes,
Dão antes crua morte,
Que asilo e proteção!

Porém no ocidente
S’ergue de repente
O arco luzente,
De Deus o farol;
Sucedem-se as cores,
Qu’imitam as flores
Que sembram primores
Dum novo arrebol.

Nas águas pousa;
E a base viva
De luz esquiva,
E a curva altiva
Sublima ao céu;
Inda outro arqueia,
Mais desbotado,
Quase apagado,
Como embotado
De tênue véu.

Tal a chuva
Transparece,
Quando desce
E ainda vê-se
O sol luzir;
Como a virgem,
Que numa hora
Ri-se e cora,
Depois chora
E torna a rir.

A folha
Luzente
Do orvalho
Nitente
A gota
Retrai:
Vacila,
Palpita;
Mais grossa
Hesita,
E treme
E cai.

Tipos de versos (com exemplos)

1. Monossílabo

O monossílabo é um tipo de verso que consiste em apenas uma sílaba poética. É o verso mais curto possível em termos de extensão e é bem pouco utilizado na poesia. No entanto, em certos contextos poéticos, o verso monossílabo pode ser utilizado com propósito específico, como criar um efeito de ênfase, concisão ou até mesmo de ruptura com a métrica tradicional.

Veja esse exemplo do poeta Cassiano Ricardo, que foi utilizado na Nova Gramática do Português Contemporâneo:

“Rua
torta. 

Lua 
morta.

Tua
porta.”

2. Dissílabo 

São versos de duas sílabas poéticas, como aqueles utilizados no começo do poema “A Tempestade”, de Gonçalves Dias. Existem poemas feitos inteiramente de versos dissílabos, mas eles também podem ser utilizados pontualmente em poemas com versos distintos.

É o caso dos versos da primeira estrofe de “A Tempestade”:

“Um raio
Fulgura
No espaço
Esparso,
De luz;
E trêmulo
E puro
Se aviva,
S’esquiva
Rutila,
Seduz!” 

3. Trissílabo

São versos de três sílabas poéticas. Eles oferecem um ritmo suave e são frequentemente usados em poesias infantis ou para transmitir brevidade e agilidade em outros contextos poéticos.

É o caso dos versos da segunda estrofe de “A Tempestade””

“Vem a aurora
Pressurosa,
Cor de rosa,
Que se cora
De carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Tem desmaios,
Já por fim.”

4. Tetrassílabo

São versos de quatro sílabas poéticas. Eles são bastante utilizados em poesia popular, como nos cordéis, e são ideais para expressar simplicidade, espontaneidade e ritmo animado.

É o caso dos versos da terceira estrofe de “A Tempestade”:

“O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
De vivas cores
Adorna as flores,
Que entre verdores
Se vê brilhar.”

5. Pentassílabo 

São versos de cinco sílabas poéticas, também conhecidos como “redondilha menor”. Eles são comumente encontrados na poesia popular e tradicional, como nas trovas, e são valorizados por sua concisão e capacidade de transmitir imagens impactantes.

É o caso dos versos deste trecho de “A Tempestade”:

“Um ponto aparece,
Que o dia entristece,
O céu, onde cresce,
De negro a tingir;
Oh! vede a procela
Infrene, mas bela,
No ar s’encapela
Já pronta a rugir!”

6. Hexassílabo 

São versos de seis sílabas poéticas. São utilizados em diferentes estilos poéticos e podem transmitir uma sensação de suavidade e fluidez, ou mesmo de vigor e ritmo mais marcado, dependendo da intenção do poeta.

Novamente, vemos sua presença em “A Tempestade”:

“Não solta a voz canora
No bosque o vate alado,
Que um canto d’inspirado
Tem sempre a cada aurora;
É mudo quanto habita
Da terra n’amplidão.
A coma então luzente
Se agita do arvoredo,
E o vate um canto a medo
Desfere lentamente,
Sentindo opresso o peito
De tanta inspiração.”

Além disso, na poesia contemporânea, vemos um ótimo exemplo no poema “Flamingos”, do Henrique Nascimento, que analisamos em um artigo:

“Ocaso rosa claro
e flanam feito nuvens
flamingos pelo lago
atrás de algas vermelhas,
crustáceos oxidados.”

7. Heptassílabo 

São versos de sete sílabas poéticas, também conhecidos como “redondilha maior”. Eles são amplamente utilizados em tradições poéticas como o romanceiro ibérico e a poesia popular, permitindo uma maior desenvoltura narrativa e uma sonoridade agradável.

Veja sua presença em “A Tempestade”:

“Fogem do vento que ruge
As nuvens aurinevadas,
Como ovelhas assustadas
Dum fero lobo cerval;
Estilham-se como as velas
Que no alto mar apanha,
Ardendo na usada sanha,
Subitâneo vendaval.”

8. Octossílabo

São versos de oito sílabas poéticas. Bastante presente na poesia lírica, trovadoresca e moderna, o octossílabo oferece um ritmo suave e é considerado um dos mais versáteis e populares tipos de versos.

Note como aparecem em “A Tempestade”:

“Bem como serpentes que o frio
Em nós emaranha, — salgadas
As ondas s’estanham, pesadas
Batendo no frouxo areal.
Disseras que viras vagando
Nas furnas do céu entreabertas
Que mudas fuzilam, — incertas
Fantasmas do gênio do mal!”

9. Eneassílabo 

São versos de nove sílabas poéticas. Muito utilizado na poesia romântica, o eneassílabo possui um ritmo harmonioso e é valorizado pela sua capacidade de transmitir emoção e profundidade.

É claro que também aparecem no poema de Gonçalves Dias:

“E no túrgido ocaso se avista
Entre a cinza que o céu apolvilha,
Um clarão momentâneo que brilha,
Sem das nuvens o seio rasgar;
Logo um raio cintila e mais outro,
Ainda outro veloz, fascinante,
Qual centelha que em rápido instante
Se converte d’incêndios em mar.”

10. Decassílabo 

São versos de dez sílabas poéticas. Considerado um dos principais tipos de versos, o decassílabo é amplamente utilizado em várias tradições poéticas, como a sonetística e o verso heroico, e oferece uma estrutura equilibrada e sonoridade agradável. Temos um artigo específico para o decassílabo, explicando seus diferentes tipos.

Veja como aparecem no poema do maranhense:

“Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruínas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.”

11. Hendecassílabo 

São versos de onze sílabas poéticas. Amplamente utilizado na poesia lírica e trovadoresca, o hendecassílabo possui um ritmo marcado e permite maior expressividade e complexidade temática. Foi muito bem utilizado em I-Juca-Pirama, épico do mesmo poeta de “A Tempestade”.

Veja o uso desse verso no mesmo poema: 

“Nos últimos cimos dos montes erguidos
Já silva, já ruge do vento o pegão;
Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
Até que lascados baqueiam no chão.”

12. Dodecassílabo 

São versos de doze sílabas poéticas. No entanto, não podem ser confundidos com um dodecassílabo mais específico, que é o verso alexandrino.

Nesse caso, o verso não está presente em “A Tempestade”. Mas veja alguns exemplos neste poema do Bruno Tolentino:

“O Senhor prometera nos compensar os anos
que a legião dos gafanhotos devorara,
meu coração, mas a promessa era tão rara
que achei mais natural vê-Lo mudar de planos”

13. Verso Alexandrino 

São versos de doze sílabas poéticas, mas, diferente do dodecassílabo, seguem algumas especificações. São divididos em dois hemistíquios (duas metades) de seis sílabas poéticas cada e o local em que o primeiro hemistíquio acaba, chamado de cesura, não deve ser uma proparoxítona. É um verso muito utilizado na poesia francesa, de modo que funciona melhor no francês do que no português por motivos que explicamos em um de nossos posts no Instagram.

Note alguns alexandrinos em um soneto de Shakespeare traduzido por Emmanuel Santiago

“Ao chegar do trabalho, reclino a cabeça
E me deito cansado da longa viagem”

14. Verso Bárbaro 

São versos que possuem mais de treze sílabas poéticas. Esse tipo de verso desafia as convenções métricas tradicionais, geralmente contendo um número irregular de sílabas. Manuel Bandeira, em sua busca pelo “verso verdadeiramente livre”, compôs versos que vão muito além das 13 sílabas, como em seu “Poema tirado de uma notícia de jornal”, cujo primeiro verso possui mais de 30 sílabas: 

“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número”

Esses exemplos representam apenas uma pequena amostra da riqueza poética que existe em diferentes períodos literários e estilos poéticos. Cada verso e cada poeta contribuem para a história da poesia, transmitindo emoções, reflexões e visões de mundo de forma única. Através dessas obras e poetas renomados, podemos apreciar a diversidade e a beleza da arte poética em suas diferentes expressões.

A história do verso

Os versos na poesia antiga

A poesia possui uma longa história, que ocorre em paralelo com a história da humanidade, dos grandes impérios e das linguagens. Com a expansão do Cristianismo e assimilação da cultura romana pelos povos conquistados, muitas mudanças ocorreram no que chamamos simplesmente de “poesia”.

O verso clássico era composto por sílabas longas e sílabas breves. A partir daí, com uma nova percepção linguística, o verso começou a ser dividido em sílabas fortes e fracas — ou seja, trocamos a quantidade pela intensidade.

Para Segismundo Spina, é neste momento que nasce a poesia românica. Os estudiosos possuem diferentes teorias a respeito dessas mudanças, que conhecemos através de tratadistas e poemas sobreviventes ao tempo.

Esse novo ritmo da poesia, que se desenvolveu a partir do século IV, é o que conhecemos hoje. A partir dele, fixou-se o sistema de “isossilabismo”: cada verso deveria ter um número igual de sílabas.

O professor elenca três modalidades de versificação românica — três tipos de poemas:

  1. Versificação isossilábica: Nesta, cada verso de um poema possui a mesma quantidade de sílabas poéticas. Por exemplo, um poema poderia ser inteiro composto por decassílabos.
  2. Versificação amétrica: Nesta, o poema possui versos de diferentes tamanhos. Um poema poderia ter decassílabos, trissílabos e dodecassílabos convivendo juntos, por exemplo, mas essa modalidade foi sendo substituída gradualmente pela primeira.
  3. Versificação acentual ou rítmica: Aqui, os versos também variam em tamanho, mas essas variações ocorrem por causa da influência da música.

Uma curiosidade: a rima não existia na poesia clássica e começou a aparecer apenas no período medieval. Depois que a rima se tornou comum, alguns trovadores praticavam versos brancos (sem rima) por virtuosismo — ou no português das ruas: simplesmente pra tirar onda.

Como vemos no artigo sobre o que é poesia, por milênios a poesia e a música eram uma coisa só. Até que Guillaume de Machaut, um francês que era excelente poeta e músico, mudou as coisas: ele decidiu que a letra era superior à música.

Foi a partir de Machaut que surgiu de fato o “poeta”. Os trovadores (que desenvolviam a letra, a melodia e também cantavam) entraram em declínio. Segundo Spina: “A poesia deixa de ser cantada para se tornar cantável.”

Os versos na poesia moderna

Por mais que você já tenha percebido que as coisas são bem mais complexas, quando estudamos a história da poesia, podemos dizer que os poemas modernos são divididos em duas categorias: poemas “metrificados” e poemas em “verso livre”.

O motivo das aspas é que contrapor o verso livre com o verso metrificado pode parecer, para alguns, que o verso livre é aleatório, enquanto o metrificado é bem pensado.

Na verdade, poemas com versos de diferentes tamanhos, que são chamados de “verso livre”, podem ter sido metrificados — era o que fazia Manuel Bandeira, por exemplo, e T.S. Eliot, que em certa ocasião disse que “nenhum verso é livre quando é bem feito”.

A partir dessa noção, Manuel Bandeira iniciou uma busca pelo verso “verdadeiramente livre”. O autor disse: “Mas verso livre cem por cento 6 aquele que não se socorre de nenhum sinal exterior senão o da volta ao ponto de partida a esquerda da folha de papel: verso derivado de vertere, voltar.”

De acordo com Luiza Franco Moreira: “Para Bandeira, no verso livre autêntico “o metro deve estar de tal modo esquecido que o alexandrino mais ortodoxo funcione dentro dele sem virtude de verso medido”. A ideia de Bandeira era abandonar o verso livre que carrega, em si, o sentimento de medida.”

Mas, à parte as discussões acadêmicas, temos uma certeza: há bons poemas metrificados e livres. O importante é que haja a essência do que chamamos de poesia: uma harmonia entre imagens, sons e os significados que proporcionam.

Conclusão

O verso é o aspecto formal que diferencia a prosa da poesia. Mas entendê-lo é apenas uma porta de entrada para um universo de possibilidades poéticas.

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